Sofista

Diálogo platônico sobre o ser e a teoria das Ideias. Continuação do Teeteto. Trata de resolver os problemas levantados pelo Parmênides.

Sofista

Sobre o ser e a teoria das Ideias. Continuação do Teeteto. Trata de resolver os problemas levantados pelo Parmênides.

Além da tradução em inglês de Jowett, incluímos traduções em outras línguas, inclusive uma tradução em português de CARLOS ALBERTO NUNES (digitalizada por JUSCELINO D. RODRIGUES), encontrada na Internet.

Sof 265e-268c: Produção divina e produção humana

Estrangeiro – Capacidade criadora, se ainda estamos lembrados do que dissemos no começo, é tudo o que for causa de vir a existir o que não existia.

Teeteto – Sim, lembro-me.

Estrangeiro – Todos os animais mortais, e bem assim as plantas que nascem na terra, de semente ou raiz, e todas as substâncias inanimadas que se encontram seu interior, fusíveis ou não fusíveis devemos dizer que tudo isso nasceu por outra influência que não a de alguma divindade, já que antes não existia? Ou aceitaremos a opinião comum, para falarmos como o povo?

Teeteto – Qual opinião?

Sof 264b-268c: Epílogo. O que é o Sofista.

Estrangeiro – Por isso, não desanimemos ante o que ainda nos falta realizar; e já que conseguimos chegar até aqui, voltemos a tratar de nosso processo de divisão.

Teeteto – Que divisão?

Estrangeiro – Distinguimos duas classes na arte de fazer imagens: a da cópia e a dos simulacros.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – E também nos confessamos em dificuldade para incluir o sofista numa delas.

Teeteto – Isso mesmo.

Sof 263d-264b: O Não-ser no juízo e na imaginação

Estrangeiro – Mas como! Pensamento, opinião e imaginação: não é evidente, de início, que todos esses gêneros ocorrem em nossa alma como verdadeiros e como falsos?

Teeteto – De que jeito?

Estrangeiro – É o que perceberás facilmente, logo que determinares o que todos eles são e em uns que diferem uns dos outros.

Teeteto – Basta que te expliques melhor.

Estrangeiro – Ora bem, pensamento e discurso são uma e a mesma coisa, com diferença de que o diálogo interior da alma consigo mesma que se processa em silêncio recebeu o nome de pensamento.

Sof 262d-263d: Ligação constitutiva do discurso

Estrangeiro – E assim como entre as coisas umas em parte se combinam e outras não: da mesma forma há sinais vocais que não se combinam; mas os que o fazem dão origem à sentença. Teeteto – Perfeitamente.

Estrangeiro – Ainda falta uma coisinha de nada.

Teeteto – Que é?

Estrangeiro – É que a sentença, desde que se forma, por força terá de referir-se a alguma coisa; sentença de nada é que não é possível haver.

Teeteto – Isso mesmo.

Estrangeiro – Como também terá de ser de certa natureza.

Teeteto – Como não?

Sof 262c-262d: A função do verbo

Teeteto – Que, queres dizer com isso?

Estrangeiro – Quando se enuncia: o homem aprende, não dirás que se trata do discurso mais elementar e mais conciso?

Teeteto – Sem dúvida.

Estrangeiro – É que, a partir desse instante, ele enuncia algo de alguma coisa que é ou se torna ou foi ou será; não se limita a nomeá-la, porém conta que alguma coisa aconteceu, o que consegue pelo entrelaçamento de verbos com substantivos. Daí não dizermos simplesmente que essa pessoa nomeia, porém que discursa, sendo a essa conexão de palavras que damos o nome de discurso.

Sof 261c-262c: Análise do discurso

Estrangeiro – Para, começar, conforme já estatuímos, tomemos o discurso e a opinião, para decidirmos com segurança se o não-ser os atinge, ou se ambos, de todo o jeito, são verdadeiros, não vindo nunca, por conseguinte, a ser falso nem um nem outro.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – Então, examinemos as palavras, da mesma maneira por que explicamos as ideias e as letras; desse lado é que talvez nos surja a solução procurada.

Teeteto – Que iremos ouvir agora a respeito das palavras?

Sof 260b-263d: Lugar do Não-ser no juízo e no discurso

Estrangeiro – Se te dispuseres a acompanhar-me, talvez compreendas sem dificuldade.

Teeteto – De que jeito?

Estrangeiro – O não-ser se nos revelou como um gênero entre os demais, distribuído entre todos os seres.

Teeteto – Certo.

Estrangeiro – Passemos, então, a considerar se ele se mistura com a opinião e com o discurso.

Teeteto – Por quê?

Sof 259b-264b: O Não-ser no discurso

Estrangeiro – Quem não acreditar nessas oposições, estude o assunto por conta própria e apresente explicação melhor; e no caso de imaginar que excogitou algo difícil e de encontrar prazer em puxar os argumentos em todos os sentidos, só direi que perdeu tempo com o que nada vale, conforme o demonstrou a presente exposição, pois tudo aquilo nem é engenhoso nem difícil de encontrar. Árduo e nobre é apenas o seguinte.

Teeteto – Que será?

Sof 258b-259b: O desprezo de Parmênides

Estrangeiro – Não percebeste que com nossa rebeldia ultrapassamos de muito a proibição de Parmênides?

Teeteto – Como assim?

Estrangeiro – Violamos o limite por ele interditado, e em nossa investigação lhe mostramos mais coisas do que o que ele próprio admitira.

Teeteto – De que jeito?

Estrangeiro – Algures ele diz:

Nunca possível ser-te-á compreender que o não-ser possa ser
Desse caminho conserva afastado o intelecto curioso.

Teeteto – Sim, foi isso mesmo que ele disse.