O mesmo sobre o mesmo...
Excerto de Carneiro Leão, "Aprendendo a pensar"
Parmênides de Eleia (cerca de 530 a.C. - 460 a.C.) é o principal representante da escola eleata, personagem do diálogo platônico homônimo. Compôs um único poema, conservado em partes, em hexâmetros épicos, que, pela adoção de seus pensamentos por Platão, exerceu grande influência sobre a tradição platônica. [SCHÄFER]
Excerto de Carneiro Leão, "Aprendendo a pensar"
O poema de Parmênides nos oferece - ao lado dos fragmentos de Heráclito - a doutrina mais profunda de todo o pensamento pré-socrático. Mas é também a de mais difícil interpretação. O poema divide-se em três partes: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião.
No prólogo (frag. 1), o filósofo é conduzido à presença da deusa, que lhe promete a revelação da verdade. A deusa, portanto, é quem fala. No fim do prólogo, o poema distingue "o coração inabalável da verdade bem redonda", das "opiniões dos mortais", o que permite distinguir as duas partes subsequentes da doutrina.
58. Parmênides percorre o caminho do Sol, no próprio carro do deus (daímonos — ver v. 3 — podia referir-se à deusa-reveladora, mas esta ainda vem longe). E uma interpretação que esclarece o sentido, e se esclarece pelo sentido de algumas passagens do «Proêmio»: o caminho «celebrado» do sol passa «por (sobre) todas as cidades» (v. 3), mas «está bem longe das sendas dos homens» (v.
57. Em primeiro lugar, falemos acerca das interpretações que não se acham necessariamente apoiadas na leitura do texto, a) A viagem de Parmênides é única, e não reiterada: o optativo ikánoi («alcance»), última palavra do primeiro verso, não é obrigatoriamente um interactivo, b) Nem o é para baixo, para o interior da terra, nem para cima, para as alturas do céu, pois, quando se mencionam os «etéreos portais» (v. 13), não pode ficar esquecido o «umbral de pedra» (v. 12).
56. O Ser, conceba-se como unidade dos contrários, ou como paradigma do continuum do mundo sensível, que não deixa lugar para o nada, tinha, pois, de ser revelado. O «Proêmio» relata as circunstâncias da revelação; e o que mais desperta o nosso interesse é o facto de nele reencontrarmos a maior e melhor parte da «mitologia do horizonte».
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 98-99]
54. Com excepção das linhas grifadas (em itálico), que correspondem aos vv. 53-54, as quatro versões concordam tanto quanto possível, atendendo à estrutura própria de cada idioma e ao gosto literário dos tradutores. Também é certo que aí o original grego explicita o próprio sentido, sem ambiguidades. Mas, chegando aos versos assinalados, o leitor desprevenido hesitaria, se lhe exigissem uma resposta precisa a esta pergunta: em que erraram os mortais? Qual foi o erro?
52. A terceira parte do poema de Parmênides não é, pois, artifício dialéctico, como a primeira não é artifício literário. A «Opinião dos Mortais» está intimamente ligada à «Via da Verdade» pela ideia de que o Ser só pode aparecer (ou «parecer a») com um mínimo de diferenciação. A correlação entre perceptibilidade, do lado do sujeito, e a diferença, do lado do objeto, não vem diretamente expressa em Parmênides, mas as primeiras linhas da
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 95-97]
[DE SOUSA, Eudoro. Horizonte e Complementaridade. Sempre o mesmo acerca do mesmo. Lisboa, INCM, 2002, p. 93-94]